Brasil insustentável
Especialistas alertam que o Brasil, do modo como trata a questão ambiental hoje, não terá condições de cumprir o Acordo de Paris até 2030
Bohn, Alemanha, 18 de novembro de 2017. A 23ª Conferência das Partes (COP 23) terminou com um clamor por “mais ambição” no combate ao aquecimento global. No entanto, o documento debatido por centenas de representantes governamentais e indepente dos Estados Unidos segue apenas com suas centenas de regras, mas com vários pontos que ainda precisam ser costurados. Em Montreal, durante um debate informal sobre as metas do ‘Livro de Regras’, a ministra canadense da Mudança Climática, Catherine McKenna, encerrou o encontro, inclusive, ressaltando que o “Acordo de Paris é irreversível e não negociável.”
As mudanças climáticas seguem o mesmo padrão deste acordo. Também são irreversíveis e não negociáveis. Ninguém está imune às mudanças reais que o mundo tem acompanhado assustadoramente, como furacões, terremotos, inundações, seca. “Os fenômenos meteorológicos extremos são cada vez mais frequentes, mais fortes e destrutivos por causa das alterações climáticas”, assinalou McKenna. E para o cumprimento do calendário climático, mesmo abalado com a saída dos EUA, as 195 nações seguem confiantes - com União Europeia, China e Canadá na liderança - no compromisso de combate às mudanças climáticas. Uma discussão burocrática, política, economômica e social, com etapas complexas para a transição.
O mundo tem o objetivo de limitar o aumento da temperatura média do planeta a 1,5°C até 2050 em comparação com o nível da era pré-industrial. Em novembro, a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP23) em Bonn, na Alemanha, sob a presidência das Ilhas Fiji, deve colocar o Acordo de Paris em xeque novamente.
Uma pesquisa, liderada pela Escola de Ciências Físicas, Matemática e Engenharia da Universidade de Exeter, no Reino Unido, mostrou que há chances de cumprirmos as metas, mas é cada vez menor o tempo e a disposição dos países em reforçar seus compromissos. “O Acordo de Paris abriu o debate sobre se limitar o aquecimento em 1,5 graus é compatível com os compromissos atuais de redução de emissões e o aquecimento de 0,9 grau que já ocorreu desde meados do século 19 até a presente década”, explicam.
O documento indica que o “orçamento” de emissões de carbono restante compatível com o limite de 1,5°C é maior do que se pensava anteriormente. No entanto, os cientistas afirmam que o aquecimento global antropogênico fez com que a temperatura na superfície fosse 0,93°C mais alto do que os registrados em meados do século 19.
Na contramão desse pensamento seguem vários especialistas ouvidos pelo Correio nesta reportagem especial. O pessimismo é ainda maior quando se coloca a questão nos moldes brasileiros. O Brasil, que até então seguia empenhado em pontos sensíveis às questões ambientais até meados de 2015, quando o acordo foi assinado, passou nos últimos anos a “andar para trás”. O golpe mais duro foi durante o enfrentamento da mais grave crise política e econômica vivida pelos brasilieiros, que passaram a acompanhar a pauta ambiental sendo drasticamente usada como moeda de troca entre políticos.
No caso mais recente, o governo chegou a declarar extinta a Reserva Nacional do Cobre e Associados (Renca). A área, com mais de 4 milhões de hectares, entre os estados do Amapá e do Pará, se tornou o maior símbolo da fragilidade das leis ambientais no país. A decisão só foi revogada pelo presidente Michel Temer após a pressão de ambientalistas, artistas e demais setores da sociedade.
Assim, restam apenas dúvidas sobre o Acordo de Paris. Vamos conseguir tirar (finalmente) as ideias do papel? O Brasil passou de grande promessa a grande fracasso das mudanças climáticas? O que ainda nos resta a fazer para que o Brasil (e o mundo) não termine insustentável?
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Crédito de imagens // Imagem no alto: Ichiro Guerra/PR. Índice de matérias: Ichiro Guerra/PR; Greenpeace/Divulgação; Juvenal Pereira/WWF; George Campos/USP Imagens; FSBionergia/Divulgação.