Um comércio para chamar de seu

Em 58 anos, Brasília saiu de uma capital construída em cima do barro do Planalto Central para se tornar um dos principais centros comerciais do país. A região abriga 20 shoppings e diversas lojas, restaurantes e bares, que garantem espaço e público não só no Plano Piloto, mas em todas as regiões administrativas. Em fevereiro, o número de empregados no setor era de 236 mil, de acordo com levantamento da Federação do Comércio do DF (Fecomércio).


Segundo o Sindicato dos Varejistas (Sindivarejista), 90% dos funcionários na área privada trabalham no comércio, que, em 2015, produziu só em manutenção de veículo automotores R$ 12,5 bilhões, cerca de 5,8% do Produto Interno Bruto (PIB) do Distrito Federal.

Devido à crise econômica, o setor teve retração de 8,4% no último levantamento do PIB. Aos poucos, porém, a situação melhora. O Índice de Confiança do Empresário do Comércio (Icec), apurado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), atingiu 114,5 pontos em março — o maior patamar desde abril de 2014. Isso quer dizer que as expectativas do empresário são otimistas. Com a retomada, aumentam também as possibilidades de contratações.

Segundo a CNC, no último mês, aumentou a intenção de contratação de funcionários, e 26,5 mil vagas formais foram abertas no país.Empresas como a brasiliense Panelinhas do Brasil se empolgam com o momento de alta. “Desde que abrimos, o Brasil sempre esteve em crise, o que nos fez aprender a trabalhar nesse cenário. Mas estamos ansiosos pelo novo momento”, garante Paulo Seabra, diretor-executivo do grupo.

Segundo Paulo, a estratégia de estar também próximo às casas dos clientes deu certo. Dessa forma, unidades como as de Taguatinga e de Águas Claras lucraram mais que as do Plano Piloto.

A primeira unidade entrou em funcionamento na Feira dos Importados, no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), em 2012 e, em seis anos, a empresa chegou a 31 franquias, sendo 13 no DF.Para crescer em meio à crise, a estratégia foi estar presente em pelo menos duas refeições do brasileiro. Com isso, espalharam unidades pela DF. “Um servidor público que almoça na nossa loja do Conjunto Nacional tem também a possibilidade de jantar conosco em Águas Claras; por isso acreditamos na ampliação do atendimento”, explica.

Cerca de 95% dos brasilienses têm acesso aos principais comércios das cidades em que vivem, afirma o vice-presidente do Sindivarejista, Sebastião Abritta. “Hoje, temos um eixo com Samambaia, Ceilândia, Taguatinga e Águas Claras com uma movimentação muito importante. Isso é bom, porque descentraliza o comércio, fazendo com que as pessoas consigam resolver a vida onde moram. As vantagens disso são enormes, trazendo benefícios, inclusive, para uma mobilidade urbana que flui melhor”, explica.

Moradora do Recanto das Emas, Renata Santos, 32 anos, sente a expansão do comércio na cidade. “Temos novas lojas abrindo, além de franquias de lanchonetes que antes só existiam no Plano. Acho isso muito bom, faz com que nossa vida possa ser resolvida aqui”, comemora.

Público misto

Um dos maiores polos comerciais do Distrito Federal, o Conjunto Nacional, reúne todos os tipos de público. Segundo o superintendente do shopping, Fernando Marchesi, o local é um grande gerador de empregos. “Somos um fundo de comércio que se consolidou de acordo com a localização e pelo vínculo afetivo com a comunidade”, explica.

Por dia, cerca de 70 mil pessoas passam pelo Conjunto Nacional. São 260 lojas, que resultam em 99% da ocupação do espaço disponível para locação e cerca de 4 mil empregos. Marchesi ressalta que, no geral, a crise econômica prejudicou o centro comercial, porém, o primeiro trimestre de 2018 fechou em alta. “Agora, estamos com inflação controlada e com a taxa referencial do Selic com valores aceitáveis. Com isso, temos mais dinheiro circulando”, afirma. De acordo com o superintendente, a tendência é de que o cenário melhore em 2019.

Para o assessor econômico da Fecomércio, José de Carvalho, ainda não dá para dizer que a crise foi vencida. Mas a visão da entidade é de que alguns setores são favorecidos pela baixa inflação. “A própria CNC está prevendo um crescimento entre 2,5 e 3%. É pouco, mas as projeções estão ficando alteradas. O comércio é o último setor a ser afetado e a demitir, mas é também o que mais demora para recontratar. A nossa expectativa é de uma retomada, o setor é muito importante para Brasília, junto com os serviços. O comércio supera 90% do PIB local”, espera.

Formas de comércio alternativas começam a fazer parte do cenário do Distrito Federal. A Endossa, uma loja colaborativa localizada na 306 Sul, começou a funcionar em Brasília há seis anos. Os interessados podem entrar em contato com o estabelecimento, alugar um estande e disponibilizar os produtos. Assim, o empreendimento passou a ser um gerador de renda para mais de 100 pessoas apenas na unidade da Asa Sul. Na capital, há duas franquias, uma na Asa Norte e outra no shopping CasaPark.A gerente do local, Meuri Dantas, explica que muitas pessoas passaram a viver exclusivamente com a renda adquirida com o comércio colaborativo. “A pessoa paga um valor fixo pelo aluguel do estande. Do lucro, ficamos com 22%. O empreendedor fica isento de impostos e de gastos com funcionários”, aponta.

Segundo Meuri, essa forma de trabalho também passou a ser um impulsionador de marcas. “Muitos começaram a fazer nome aqui e abriram até a própria loja física ou on-line”, frisa. A loja vende todo tipo de produto e para todas as idades, como itens de decoração, de papelaria e joias. Para o setor varejista, a expectativa é de crescimento de 3%. “Vamos ter uma maior venda de televisores devido à Copa do Mundo. A linha branca, com fogões e geladeiras, também deve ter crescimento, após ter ficado reprimida nos últimos anos. Aparelhos tecnológicos, como smarthphones e smart TVs, devem ter destaques nas vendas a longo prazo”, explica Sebastião Abritta, vice-presidente do Sindivarejista.  

Um comércio para chamar de seu
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  2. Inovação no varejo