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Unidas pela fé, vizinhas promovem o projeto Novena Natalina

Regina Cintra e Ismenia são frequentadoras do Santuário Nossa Senhora do Carmo e daí surgiu uma relação de carinho e de ações solidárias

Edis Henrique Peres

Ismenia e Regina durante apresentação na 213 Sul
Ismenia e Regina durante apresentação na 213 Sul | Foto: Arquivo pessoal

A história de mais de 22 anos de amizade entre melhores amigas nasceu aos poucos em encontros, passeios e eventos religiosos. “Sem pretensões e sem que a gente notasse: quando percebemos, estávamos nesta intimidade danada”, descreve Regina Cintra, 69 anos, moradora da 314 Sul. O primeiro contato entre ela e Ismenia Maria Magalhães, 74, residente da 213 Sul, ocorreu no Santuário Nossa Senhora do Carmo, ainda na década de 1990, quando Regina foi buscar uma das filhas na catequese.

“A Ismenia frequentava a missa com violão, ensinando as crianças a tocar. Dessa forma, aos poucos fui conhecendo ela enquanto eu participava da celebração. Depois, fui convidada para encontros da igreja e de lá em diante começamos a fazer retiros e cursos juntas”, lembra. O vínculo, ao longo dos anos, se fortaleceu, motivado pelo mesmo motivo do primeiro encontro: a fé. “A Ismenia é responsável por uma Novena de Natal no bloco do prédio dela, e ela me chamou para participar. As novenas são feitas, a cada dia, na casa de um vizinho e isso estreitou muito as nossas relações, porque ao fim era realizado um jantar e sempre tinha muita conversa”, afirma.

Mesmo morando em outra quadra, Regina foi muito bem recebida pelos condôminos. “Eu me auto-intitulava intrusa, porque tinha o benefício de usufruir o que a quadra deles ofereciam. E com toda essa relação, o meu contato com a Ismenia se aproximou e criamos um vínculo muito forte. Não somente entre nós, mas a minha família toda com a família dela. Virou uma coisa bem misturada, sólida e verdadeira”, garante.

A moradora do 314 confessa: “Ismenia é minha melhor amiga. Nem tenho palavras para descrever essa relação. Mas posso te dizer que nunca tive uma amizade tão profunda, nem na época de minha adolescência, como tenho hoje com a Ismenia. Hoje, inclusive, sou madrinha de casamento da filha dela. Nos aniversários estamos juntas. É uma relação que não foi programada, foi natural, quando acordamos, ela já estava ali, tinha acontecido. É muito verdadeira”.

Solidariedade

O projeto de Novena Natalina, organizado por Ismenia, acontece há mais de 30 anos na quadra 213, no Bloco A, local em que reside. “Sou muito religiosa e sempre achei que uma forma de viver melhor seria rezando. Isso ajudou muito na união do grupo de moradores”, conta. O projeto começou de forma simples, com um terço que era rezado com as crianças, com a participação das mães que acompanhavam os filhos.

“Depois, isso se transformou em uma Novena de Natal. No último dia da Novena fazemos uma ceia, em que cada um leva um prato. É uma comemoração muito especial, que tem de tudo: doces, frutas, peru. É a união de todos os moradores”, garante Ismenia. A comemoração era enfeitada com ares de natal e os bebês nascidos naquele ano representavam, nas peças encenadas pelas crianças, o menino Jesus em seu nascimento. “Essa coisa de evangelizar realmente sempre foi algo nato meu”, complementa Ismenia.

Contudo, muito além de apenas um festejo religioso, o grupo se preocupa em promover ações concretas. Em cada novena o grupo promove doações para entregar às pessoas vulneráveis. “A única coisa que atrapalhou as nossas novenas foi a pandemia. Mas neste ano espero que a Novena possa voltar a acontecer de novo, quero muito retomar as nossas atividades”, reforça Ismenia.

As festas natalinas tinham até a presença do Papai Noel
As festas natalinas tinham até a presença do Papai Noel | Foto: Arquivo pessoal

Um céu aquarela

Regina foi encontrar a melhor amiga a mais de 1.200 km da cidade natal, sob um céu colorido que nem acreditava que existia. Nascida em Vitória, ela chegou em 1974 à capital do país. “A maior parte da minha família continua lá, mas aqui eu recebi muito acolhimento”, garante.

Ismenia, contudo, desembarcou na capital um pouco antes. “Minha família era de Formosa, cheguei aqui em 1971. Desde então fiquei por aqui e morei em vários locais. Na 213 Sul, moro há 35 anos. Praticamente vi muito do progresso que Brasília trouxe, principalmente a singularidade da capital”, assegura a moradora.

A particularidade é o ponto em comum de admiração também de Regina, que se formou em decoração de interiores. “Brasília sempre me atraiu muito pela arquitetura. Ficava pensando no lugar que eu vivia que era quase surreal”, afirma.

A beleza natural do Planalto Central era outro encanto para Regina. “Gostava de fazer pinturas, mas quando via aqueles céus coloridos, com laranja, lilás e tantas cores eu pensava que aquilo era uma mentira, que não tinha como um céu ser daquela cor. Contudo, quando cheguei aqui, descobri que isso existia. Descobri que isso era possível somente aqui em Brasília”, finaliza.