Diversão na fazendinha de JK e festa para a Legião Urbana na Villa-Lobos
A história do menino que foi amigo de Juscelino Kubitschek e que levou Renato Russo à sala Villa-Lobos do Teatro Nacional
Talita de Souza
Guto Felício dos Santos chegou a Brasília com 4 meses de idade, três dias antes da inauguração. O pai, deputado federal, veio assumir o mandato na nova capital, criada pelo primo, Juscelino Kubitschek.
Foi com a família Kubitschek as primeiras lembranças de Guto em Brasília. O apartamento dos pais dele, na 111 sul, tornou-se um refúgio para o ex-presidente quando ele estava proibido de vir a Brasília, em 1974. “Lembro de ele ficar escondido lá em casa, no bloco H da 111. Ele abria a janela e ficava chorando, ele não acreditava que Brasília estava consolidada, tinha crescido”, conta.
Quando JK estava na casa de Guto, uma vizinha, Vera Brant, decidiu comemorar a vida do ex-presidente. “Todo mundo começou a dançar e dançar e a animação fez com que todos fossem para baixo do bloco, onde a festa chamou mais gente. Foi chegando todo mundo e foi um grande marco. Ali, viram que não tinha como impedir que JK viesse e vivesse em Brasília”, lembra.
Logo depois, a família passou a frequentar a fazendinha de JK, em Luziânia. O pai de Guto dirigia, enquanto Juscelino ia no banco do passageiro e falava para ele acelerar. “Meu pai não era muito de correr e Juscelino sempre falava para ele ir mais rápido. Era uma cena clássica, ele sempre tirava os sapatos e colocava no painel do carro”, conta.
“Em uma dessas vezes, em 74, faltava 1km para chegarmos na fazendinha e o pneu estourou. Como eu era o mais novo, fui trocar o step, mas o carro estava sem o macaco. JK falou para eu ir para a fazenda e chamar ajuda. Eu estava indo quando ele decidiu sair do carro. Ouvi uma freada forte e muita poeira. Era um carro que o reconheceu e parou para cumprimentá-lo. Em pouco tempo, uma fila de 10 carros foi feita e todos queriam falar com ele”, lembra Guto, que voltou para ver o movimento.
“Acabou que todos se juntaram e levantaram o carro na mão para trocar o pneu e, no fim, ele convidou todo mundo para a fazenda e foi uma festa. Ele era assim, muito popular, e graças a Deus eu tive a chance de acompanhá-lo”, declara.
Pouco mais de 10 anos depois, já adulto, em 1986, era a vez de Guto propiciar momentos marcantes para Brasília. Foi ele quem articulou a apresentação histórica do Legião Urbana na sala Villa Lobos, no Teatro Nacional Claudio Santoro, reservada, na época, para ópera e balé.
“Trabalhava com um primo em uma empresa que gerenciava show e, em 1986, decidimos fazer um show do Legião. Fui até o Rio negociar com o empresário e com Renato [Russo]. Ele disse que só faria um show no Ginásio, onde a gente queria, se ele se apresentasse na Villa Lobos”, lembra.
“Eu pensei ‘meu Deus, vai quebrar tudo lá, ninguém nunca vai deixar, vai ser um tumulto’. Liguei para o governo e negociei. Depois de três horas de conversa, o governo topou o show, mas em dois dias, para evitar tumulto. Foi fantástico, Renato se emocionou muito em se apresentar ali, lotou os dois dias e apenas uma cadeira ficou fora do lugar. Foi muito marcante”, conta.