Irlam Rocha Lima
Quando chegou a Brasília, em 6 de março de 1973, Maria do Carmo Manfredini, o marido Renato Manfredini e os filhos Renato Manfredini Jr. e Carmem Teresa Manfredini, inicialmente se instalaram num hotel, na Asa Sul. Logo depois passaram a ocupar um apartamento no Bloco B da SQS 303 — adquirido pelo patriarca da família.
Servidor graduado da presidência do Banco do Brasil, Renato Manfredini, por escolha própria, veio transferido pela instituição para a nova capital. “Estávamos vindo do Rio de Janeiro, onde morávamos numa casa, na Ilha do Governador. Dois anos antes, Renato e eu tínhamos vindo conhecer Brasília. Ficamos encantados com a cidade de grandes espaços, muitas áreas verdes e arquitetura futurista.
Sentimento semelhante tiveram o Júnior (Renato Russo) e Carmem Teresa. Olhando as vias e os prédio pelas janelas, quando entramos no Eixo Monumental, eles ficaram deslumbrados”, lembra Dona Carminha, como, respeitosamente, é chamada, mesmo por quem é próximo dela.
O apartamento, de sala ampla, quatro quartos e outras dependências, foi considerado ideal por todos os Manfredini. Um dos quartos, o ocupado por Renato Russo, se transformou inicialmente num espaço de estudos e, posteriormente, o local de trabalho, além de uma espécie de estúdio, do futuro líder da Legião Urbana. Antes de se dedicar profissionalmente à música, estudou jornalismo no Ceub, chegou a ser repórter da 105 FM (atual Clube FM, dos Diários Associados) e professor de inglês na Cultura Inglesa.
“Enquanto era garoto, o Júnior gostava de andar de patins embaixo do bloco e nos acompanhava quando íamos a restaurantes e à Associação Atlética Banco do Brasil (AABB). Mas depois só queria sair sozinho, para encontrar os amigos em vários locais, principalmente nas fotos, Maria do Carmo mantém no apartamento apenas alguns discos de ouro e platina recebidos por Renato Russo.
A matriarca diz que sempre teve ótima relação com os vizinhos, embora não costume visitá-los. “Mesmo quando o Júnior aprontava, eles relevavam”, comenta. Mas deixa claro que entre os moradores do bloco é com Margarida Custódio, moradora de apartamento localizado no piso abaixo do dela, que mantém amizade mais longa e fraternal.
Receitas culinárias
“Somos vizinhas e amigas desde 1975, embora não nos encontremos muito. No período da pandemia, então, ficou ainda mais difícil. Mas, nos falávamos por interfone ou por telefone quase todos os dias, a respeito de assuntos diversos, inclusive sobre receitas culinárias, coisa comum a duas donas de casa, que gostam de cozinhar”.
Viúva de de José Darcy Custódio, também servidor do Banco do Brasil, Margarida Custódio mora no bloco B da 303 Sul desde 1972. Mãe de cinco filhos, só um deles, servidor do Supremo Tribunal Federal, mora com ela. Embora, com alguma frequência, receba a visita dos outros filhos, da nora e dos netos, é com Dona Carminha que mais bate papo.
“Vizinhas, nos tornamos desde que ela veio morar aqui há quase 50 anos. Durante esse tempo todo, nunca tivemos nenhuma desavença. Nos distanciamos um pouco quando ela foi morar com a filha Carmem Teresa num condomínio no Lago Sul. Mas mesmo naquele período, nos falávamos por telefone”, recorda-se Margarida. “Depois que voltou para o bloco, as conversas, quase que diárias, por interfone, foram retomadas. Sempre que faço pão de queixo, levo pra Carminha”, diz, tomando esse gesto prosaico como um elo entre ambas.