Edis Henrique Peres
O primeiro domingo de cada mês é uma data esperada com ansiedade pelos moradores da QL 5 do conjunto 7 do Lago Norte. Neste dia, os vizinhos se encontram em um passeio cultural por pratos típicos de diversos estados do Brasil, com direito a uma tarde de prosa e boas risadas. A tradição dos almoços da quadra duram mais de 15 anos e garantem o posto de “segunda família” entre os participantes. Gorete Reis, 68 anos e advogada, reside no local há 30 anos e conta como o almoço da vizinhança começou.
“Tínhamos a tradição de fazer uma festa junina, em junho, quando nos encontrávamos. Era tudo super organizado. Nessa época, havia uma vizinha que puxava uma quadrilha com os moradores. Era uma festa que nos unia muito. Mas acontecia apenas uma vez por ano. Daí, começou a ideia de fazermos um almoço. O Carmo (Gonçalves), que era muito alegre, se entusiasmou com a ideia, e até hoje, costuma ser o primeiro, todo ano, a dar o almoço na casa dele”, conta.
Carmo, 61 anos, engenheiro mecânico, detalha que cada vizinho leva para o almoço um prato diferente e uma bebida da sua preferência. “Os encontros mensais servem para a gente socializar, é uma integração da vizinhança. Tratamos de assuntos da rua, de melhorias e alertas e também do dia a dia, jogando conversa fora. Aos poucos a prática foi prosperando e todo mundo gostou da ideia. Só tivemos que parar nesse período, devido à pandemia e estamos esperando um pouco para retomar a tradição, mas em junho talvez voltemos com os encontros”, pontua.
Os vizinhos costumam chegar por volta de 12h e a conversa rende até as 17h. Gorete explica que o grupo tem um calendário para os almoços que serão realizados ao longo do ano. “O dono da casa sempre oferta um prato diferenciado e temos receitas famosas de cada vizinho, como a costela do Cesinha, que é o morador César, ele faz uma costela assada muito gostosa. Tem outra vizinha que é fazendeira e faz o doce de leite dos diabéticos de sobremesa. É realmente uma confraternização, que costumamos levar até os filhos. É um domingo maravilhoso, de muita piada. A gente se ama muito, aqui é uma vizinhança solidária”, destaca.
A advogada explica que a experiência também envolve um passeio cultural. “Temos vizinhos de diversas localidades. Tem uma que é do Maranhão, uma outra que é do Pará, que sempre leva o pirarucu de casaca; e muitos outros como outros são pernambucanos e pessoas do sul. Cada um traz um prato típico do seu estado. Há uma troca de costume muito grande, com relação aos pratos, as histórias de infância, os hábitos. Meu marido, por exemplo, é goiano e gosta muito de costela de porco frita na panela com mandioca cozida, e este é um prato que eu costumo fazer nos nossos almoços”, acrescenta.
Além da gastronomia
A amizade entre os vizinhos, contudo, se estende para além de almoços aos domingos. Gorete destaca que esses vínculos são levados para a vida privada dos moradores. “Às vezes o casal faz aniversário de casamento, uma missa em casa, e os vizinhos são convidados. No casamento do meu filho, por exemplo, fiz somente reunião simples, mas não deixei de convidar todos os meus vizinhos. Outro caso é que teve um filho de moradores daqui que se casou no interior do Goiás e boa parte da vizinhança foi ao casamento, se hospedou na cidade e participou da cerimônia. O vínculo é forte entre a gente, somos praticamente uma segunda família”, salienta.
Nos momentos de tristeza os vizinhos também são um suporte uns para os outros. “Quando alguém está doente, ou quando precisa de ajuda, todo mundo se mobiliza. Não é apenas em situação de festa que estamos juntos. Há casos de vizinhos que se internaram e nós fomos ajudar para que ele fosse transferido para outro hospital. É uma solidariedade entre todos. Quando alguém coloca no nosso grupo que está doente, o outro já fala que tem alguma planta para chá que pode ajudar, todo mundo é preocupado com o outro”, afirma.
Não somente para os vizinhos que já estão consolidados na quadra, mas quem chegou recentemente também tem espaço para entrar no grupo e fazer parte dos almoços. Dayse Corrêa, 64 anos e aposentada, conta que quando chegou à CL 5 o evento já acontecia. “Logo que chegamos fomos convidados a participar e desde então nunca ficamos afastados. Em toda grande comemoração também nos reunimos, como aniversário e outras festas. A vizinhança aqui é muito solícita, ela manifesta as boas vindas, e todo mundo fica esperando a data do almoço”, revela.
Para Dayse, receber o convite dos vizinhos para participar da tradição da quadra foi emocionante. “O mais comum é termos um contato muito restrito com os vizinhos, mas aqui temos todo esse acolhimento amoroso. E não é por interesse, ninguém quer saber a sua profissão, o seu rótulo, é apenas uma amizade pessoal”, comenta.
A avaliação é a mesma de Maria Auta, 67 anos e aposentada. “Compartilhamos das dificuldades, das alegrias e dos problemas. O que acontece é que nesse processo dos almoços nos tornamos uma grande família. Quando precisamos de alguma coisa, as pessoas já se colocam à disposição. Partilhamos o que temos em casa, como frutas, por exemplo. O vizinho que tem manga saí dando para todo mundo, a mesma coisa com abacate, limão e ervas para chá. É uma interação e uma tranquilidade que não e ver em nenhum outro lugar”, finaliza.