Renata Nagashima
“O interesse começa na gente”, foi com esse pensamento que a psicóloga Giovanna Bittencourt de Castro, 29 anos, se motivou em resgatar os laços de amizade e colaboração entre os vizinhos para reativar a Horta Comunitária SQS 114 Sul. “Se a gente não começar, como cobrar dos outros? E com a horta não é diferente. É por meio da nossa motivação inicial que vamos incentivar outras pessoas a terem esse cuidado com o lugar”, acrescenta a jovem.
Moradora do Bloco H em 2018, Giovanna teve a iniciativa de criar um grupo de convivência com os vizinhos da quadra. Para Giovanna, essa relação com a comunidade a enriquece e ela também pode contribuir com as outras pessoas. “A gente cria amizades e um suporte entre os vizinhos”, afirma. Um exemplo, é uma amizade que fez com uma idosa que mora sozinha. “Ela tem um cachorro e eu ia lá às vezes, descia com ele para o Eixão. Eu estava com ela pela companhia e hoje é uma pessoa que é minha amiga”, conta.
Por mais laços como esse, Giovanna não pensou duas vezes em reativar a horta da quadra. “Quando eu soube que um dia tiveram esse espaço, fui atrás de quem também tinha o mesmo interesse que eu”, relata. Assim, a psicóloga conheceu Suzana Ramos Silveira da Rosa, 61. Moradora do Bloco B, ela é uma das vizinhas que participou do processo de implementação da horta.
Em 2013, por meio da iniciativa de duas moradoras do Bloco B, nascia a horta em um pequeno cercado atrás do Jardim de Infância 114 Sul. A intenção inicial era trabalhar com uma horta educativa junto com a escola, mas a parceria não vingou e os moradores da quadra cuidaram do espaço sozinhos. “Fazíamos mutirões, então quem não ajudava durante a semana, vinha no sábado ou domingo, no final das contas todo mundo participava de alguma coisa”, recorda Suzana.
Canteiros
No entanto, em 2018, com a crise hídrica, os moradores decidiram desativar o espaço. “Não era justo com as pessoas de outras regiões administrativas, que passavam por aqui. Elas não tinham água nem para tomar banho e aqui estávamos regando as plantas”, explica a enfermeira. Na época eram 14 canteiros, área de compostagem e um minhocário. Hoje, o espaço conta com apenas seis canteiros.
Hoje, o objetivo, além de reativar o espaço plenamente, é resgatar o espírito de comunidade entre os vizinhos da SQS 114. “Antes da pandemia a gente se reunia para tudo, organizávamos lanches, aula de tai chi chuan, tínhamos uma convivência boa. É uma coisa que sentimos falta e queremos retomar. Aos poucos vamos conseguindo acender o interesse na comunidade”, acrescenta Suzana.
Relações
Giovanna concorda com a vizinha e compara a atual aparência da horta com a relação dos vizinhos. “Hoje, vemos uma horta não tão bonita, um pouco seca. Ela não está exuberante, mas eu acho que isso reflete como estão as nossas relações como comunidade. Representa muito da escassez das relações da nossa comunidade. E isso tudo aqui é sobre relações e pensando no próximo”, explica a psicóloga.
Para a jovem, a pandemia ensinou a pensar mais no que é possível fazer para contribuir com o próximo. “Eu venho aqui, cuido e planto não só para o meu benefício, mas para o outro também. Tem gente que vem aqui só para colher. E é um trabalho de via dupla, porque eu confesso que gosto de plantar, mas não lembro de colher e sempre tem alguém que colhe. Mesmo que essa pessoa não esteja ajudando ativamente, eu vou ficar feliz porque alguém está colhendo e se beneficiando disso”, completa.