Renata Nagashima
Durante a quarentena, a internet e as redes sociais trouxeram muitos benefícios para uma grande parte da população. Enquanto surgiam possibilidades para o trabalho, de forma remota, as aulas on-line, de adotar novas estratégias de comércio, manter relacionamentos afetivos e até desfrutar do lazer e da cultura foi um desafio. Smartphones e computadores intermediaram um maior contato entre as pessoas durante a pandemia e isso se potencializou para que certas rotinas fossem mantidas.
Nesse período, a tecnologia tem sido fundamental, não só para passar o tempo navegando em redes sociais e em streaming, mas também — e principalmente — para dar continuidade às interações humanas. Grupos de mensagem instantânea uniram, ainda mais, amigos e desconhecidos para minimizar o isolamento.
O grupo Confraria Noroeste veio para trazer afeto para aqueles que se sentiam sozinhos no Noroeste durante a pandemia. A Confraria acabou se tornando um local para fortalecimentos dos laços de amizades e uma rede de apoio entre os vizinhos.
Uma das responsáveis pela criação e administração do grupo é a economista Ana Luiza Champloni, 35 anos. Ela conta que o espaço funciona como uma rede de apoio. “Durante a pandemia, as pessoas estavam muito sozinhas, então o grupo foi um escape. Muitas amizades se formaram e é maravilhoso ver esse laço e bom convívio entre os vizinhos, que vai além de reclamações ou ‘bom dia’ e ‘boa tarde’, quando se esbarram em algum lugar”, afirma.
Ana Paula se mudou para o Noroeste. em 2015, e entrou em um grupo chamado “Girafonas”, onde conheceu as primeiras amigas do bairro. “O grupo foi crescendo e era muito legal, porque acabamos nos aproximando, fazíamos encontros e piqueniques juntas”, recorda. No entanto, com a pandemia, as conversas paralelas aumentaram e Ana Paula teve a ideia de criar um novo grupo apenas para conversas e trocas de vivências. Assim nasceu a Confraria.
“A gente troca muita ideia, indicação e tem muita ajuda. Esse é um canal importante para as pessoas se comunicarem, ainda mais durante um período em que ficavam muito sozinhas em casa”, explica. Por causa da quarentena, muitas mulheres se ofereciam para fazer compras para as pessoas que corriam mais riscos ao saírem de casa. “Amizades surgiram e contribuiu para fortalecer os laços entre as moradoras. Certa vez, uma moça fez aniversário e estava sozinha em casa, mas, mesmo a distância, conseguimos fazê-la se sentir amada. E é a razão de tudo isso”, acrescenta a economista.
Durante as datas comemorativas, as mulheres do grupo organizaram festas de Páscoa e junina on-line, com tudo que se tem direito. Em junho, um trio elétrico com música caipira e quadrilha de dança desfilou entre os prédios do Noroeste. “Foi uma ideia sensacional e ajudou para que, aos poucos, a gente fosse sentindo que as coisas estavam voltando ao normal”, completa.
Portuguesa, Paula Navarro, 50, mora no Noroeste desde 2014 e ela conta que o grupo ajudou bastante a aproximar as pessoas. “O grupo da confraria é basicamente de conversa e ajuda. É interessante a amizade entre elas, porque o que precisar, elas ajudam e você consegue nesse grupo. Fomos criando amizade e nos engajando para ajudar o próximo também”, detalha a empresária.
Ela destaca que iniciativas como essa no bairro resgata o tempo antigo de Brasília, em que as pessoas viviam em comunidade, na porta das casas e nos pilotis dos blocos. “As pessoas de fato convivem entre os vizinhos, as crianças brincam umas com as outras, o pessoal marca eventos e piqueniques, hoje em dia isso é raro”, diz Paula.
Busca
A servidora pública Luana Vieira Batista, 37, hoje é muito grata por essa rede de apoio que encontrou nos vizinhos. João, seu cachorro de estimação fugiu e, graças ao empenho e ajuda que recebeu dos moradores, ele foi encontrado seis dias depois. “Eu tenho certeza que se não fosse essa ajuda, nunca teria encontrado o João”, conta.
Em março ela estava passeando com o animalzinho quando, assustado por causa de outros cachorros, ele fugiu e desapareceu. “Foi desesperador”, recorda Luana. Após o episódio, ela começou a divulgar a foto no Instagram e no grupo do condomínio onde mora. “Os meus vizinhos começaram a mandar para outros grupos do Noroeste e começou uma corrente enorme”, conta. Os moradores do bairro se organizaram para ajudar a servidora pública a encontrar João.
“Eu fiquei chocada com toda essa rede de apoio. Nunca tinha feito parte de grupos de vizinhos e fiquei surpresa e muito comovida com a união e a rede de apoio que os vizinhos formaram. Aqui o pessoal tem esse diferencial, as pessoas procuram se unir e se ajudar”, diz Luana. Agora, os vizinhos querem combinar um piquenique para conhecer o João, que ficou conhecido.