Renata Nagashima
Engana-se quem acha que os vizinhos só se reúnem para fazer festas ou confraternizar. No Noroeste, os moradores dedicam esforços durante todo o ano para amparar animais de rua que foram abandonados ou esquecidos por ex-moradores. O excesso de cães e gatos deixados para trás nas ruas é uma realidade presente no setor e fez com que surgissem verdadeiros guardiões dos pets, que abraçaram a causa animal e lutam pelos direitos desses bichos.
No final de 2016, uma desocupação em uma área de invasão no Noroeste tirou 77 famílias de catadores de recicláveis que viviam irregularmente no local. As pessoas foram embora, mas os animais que ficavam no local, foram deixadas para trás e passaram a perambular pelas ruas do setor. “Esses bichinhos ficaram sozinhos no meio do mato e começaram a vir para cá. Então, o Noroeste ficou com matilhas de animais pelas ruas”, conta Stephanie Cunha, 55 anos, moradora do setor há nove anos.
Tocadas pela situação dos animais, algumas moradoras se juntaram para ajudar. Elas foram resgatando cães e gatos aos poucos. Os bichos eram castrados e depois levados para abrigos. “A demanda foi aumentando, mais vizinhos foram se unindo para apoiar a causa e assim o grupo Resgate Noroeste nasceu, pequenininho e entre moradores daqui mesmo. E cada vez mais crescendo o número de cachorros e gatos. Começamos a nos estruturar, continuamos a resgatar e ano passado a gente virou ONG”, relata Stephanie, que hoje é vice-presidente da Associação de Proteção Animal Resgate Noroeste.
Desde que o grupo se formou, 450 cães foram retirados das ruas e encaminhados para adoção. Quando resgatados, eles são levados para uma clínica parceira do Resgate, onde passam por um check-up, fazem todos os exames de sangue e imagem. Estando tudo certo, os animais são levados para um hotel parceiro, no Gama, fazem uma quarentena, em seguida são castrados e vacinados. “Depois desse processo nós fazemos o trabalho de divulgação nas nossas páginas para que eles sejam adotados e deem lugar para mais animais saírem das ruas”, explica.
Para financiar as ações, os voluntários promovem ações como vendas de quentinha e bazar beneficente, que atualmente funciona em uma loja cedida por um vizinho que se solidarizou com a causa. “Os próprios vizinhos doam as coisas que vendemos no bazar. Tudo isso aqui é uma união de esforços”, completa Stephanie.
Além de ajudar os animais, o grupo também serviu para unir e fortalecer os laços de amizade entre os vizinhos. “Isso fez com que as pessoas se conhecessem, criamos muitas amizades. Aí todo mundo desce um determinado horário, os cachorros brincam, as pessoas se confraternizam. Eu acho que isso também movimentou, criamos grupos de mensagens, as pessoas conversam e trocam mais ideia”, afirma.
Uma das amizades que Stephanie fez foi com a professora, Fernanda Nogueira, 38, que atualmente cuida do bazar solidário com a vice-presidente da ONG. E ela garante que o que mais a atraiu para morar no setor foi a quantidade de projetos e a aproximação entre os vizinhos. “A gente organiza eventos, bazares, a gente ajuda cachorro, ajuda família carente e, ao mesmo tempo, fortalece o vínculo entre os vizinho”, diz.
A professora compara o Noroeste com uma cidade do interior. “Aqui o povo é muito bairrista. Então, tem o grupo do bar que a gente pergunta ‘quem quer tomar uma hoje?’ e já acha uma companhia. A gente desce sozinho para o bar e encontra a galera, não precisa sair de casa acompanhado necessariamente. Temos que ter esse vínculo, para qualquer coisa tem um vizinho disponível para sair com você”, destaca Fernanda.