Na quadra modelo, uma amizade que atravessa décadas

Felicidade compartilhada
Vizinhas de Superquadra, Rosa Regina Faleiros (direita) e Noêmia Vasconcelos | Foto: Carlos Vieira/CB/D.A. Press

Na quadra mais antiga de Brasília, desenhada por Oscar Niemeyer e inaugurada em 1960, se forjou uma amizade que dura mais de 20 anos e percorreu continentes. Entre viagens, almoços e cafezinhos, Rosa Regina Faleiros, 70 anos, e a amiga Noêmia Vasconcelos Victor, 79, compartilham risadas, desabafos e espantam a solidão. O laço entre as duas nasceu na superquadra 108 Sul, quando Noêmia se mudou para o mesmo bloco de Rosa Regina, em 2000.

“Fui morar na 108 e a Regina era síndica, então tínhamos contato contínuo. Aos poucos, começamos a sair juntas para lanchar e a amizade foi surgindo muito naturalmente. Depois, precisei mudar do Bloco I para o F, mas a amizade permaneceu. Nós duas saímos para comemorar aniversários, falar sobre a família, dizer como estão os netos”, detalha Noêmia.

A aposentada revela que as amigas chegaram a visitar o exterior. “Um dos nossos melhores programas foi uma viagem que fizemos para Portugal e Espanha. Começamos (o tour) em Lisboa, e fomos em direção à Espanha, parando em diversos pontos. Minha filha foi junto porque ela dirige no exterior. Foi uma viagem maravilhosa, a gente curtiu muito. E tinha outras pessoas da quadra 108 na viagem que também são amigas nossas”, relembra.

Segundo ela, o vínculo também é um auxílio nas horas de necessidade. “Regina é muito comunicativa e prestativa. Ela gosta de dirigir para qualquer lugar, já eu não gosto de pegar o carro. Então ela me ajuda quando preciso. Uma amizade boa assim é muito saudável, porque os nossos filhos já se casaram e tendo esse vínculo a gente sai do isolamento e se diverte. Contar com outras pessoas para passear e não ficar só é muito importante”, avalia.

Passeio de amigas

Rosa Regina assegura que o laço entre as duas se fortaleceu “pelo que havia em comum” entre as aposentadas. “Ela era viúva e eu era divorciada. Como ficávamos muito só, começamos a sair para tomar um cafezinho, um chopp e para pegar um cinema. Fizemos uma amizade entre três amigas, mas a terceira do grupo voltou para o Rio de Janeiro e agora quem mantêm esse vínculo somos eu e ela. A questão é que a pandemia atrapalhou muito os nossos passeios. Antes, às sexta-feiras ou aos sábados, a gente almoçava fora, porque gostamos muito de feijoada”, salienta.

Depois do prato típico, as duas amigas paravam no Praliné Confeitaria Suíça, tomavam sorvete e visitavam o Casa Park. “Isso já era por volta de 16h, a gente dava uma olhadinha nas lojas, e depois ia para o cinema. E mesmo após a sessão, ainda tínhamos pique para ir comer uma pizza e tomar um chopinho. Eram dias muito agradáveis que dava para colocar toda a conversa em dia. Agora, estamos voltando a nos encontrar aos poucos. Almoçando no comércio local, comendo um lanche, saindo de vez em quando. Nada igual a programação que fazíamos antes, devido ao risco do vírus”, pondera.

As viagens ao exterior não foram as únicas feitas por Noêmia e Rosa Regina: as amigas também visitaram Aracaju, Rio de Janeiro e São Paulo. “A gente mora sozinha e os filhos se casaram, então, querendo ou não, surge um pouquinho de solidão. Essa convivência supre esse espaço. A nossa amizade serve como desabafo, contamos dos problemas, do que está acontecendo na nossa vida, das nossas mágoas. Colocamos para fora os nossos problemas com alguém que a gente confia”, salienta.

Amor pelo DF

Além das outras semelhanças, Noêmia e Rosa Regina compartilham uma mesma paixão: o amor pela capital do país. Rosa Regina chegou à capital em 1962, quando tinha 10 anos. “Meu pai era servidor público do Ministério de Minas e Energia e morávamos em São João Del-Rei, em Minas Gerais. Na época, o que chamava os servidores para a capital era o apartamento funcional, que os moradores recebiam ao vim para cá. Quando chegamos, recebemos o apartamento na 108 e eu passei minha infância na quadra, estudava na Escola Classe, visitava o Clube Vizinhança para lazer e frequentava a Igrejinha. Para a gente era uma benção viver nessa quadra, porque tudo era próximo e nessa época ninguém tinha carro”, lembra.

Os anos se passaram e, com o casamento, Rosa Regina deixou o lugar em que formou a maior parte das memórias da infância. “Sempre quis voltar para 108, por isso, quando tive oportunidade, em 1995, eu financiei um apartamento no Bloco I. Aqui (na quadra 108) fui síndica durante 12 anos, deixei o cargo há quatro anos”, informa. Rosa Regina acrescenta: “Falo com muito orgulho que sou moradora de Brasília, porque não existe cidade igual. Esse traçado da capital não existe em outro lugar do mundo. Para mim, é a cidade mais bonita, principalmente a vista aérea, que a gente vê nos filmes e na televisão, com tanta árvore e tanto verde. Embora tenha nascido em Minas, minha vida se formou aqui, em Brasília”.

Noêmia compartilha da mesma opinião da amiga. “Conheço muitas cidades, mas Brasília é muito moderna e organizada, e gosto muito daqui principalmente pela arborização do Plano Piloto. Tenho um carinho muito grande pela cidade porque foi onde cresci profissionalmente”, finaliza.

Filho de pioneiros, Dom Marcony fala que diálogo é marca de Brasília

Arcebispo militar do Brasil, Dom Marcony Vinícius Ferreira é entrevistado pelo jornalista Carlos Alexandre de Souza, no programa CB.Poder

Texto: Pedro Marra

O diálogo é a marca de Brasília, segundo Dom Marcony Vinícius Ferreira, 5º arcebispo militar do Brasil. Filho de pioneiros, ele nasceu na cidade e afirma que uma boa conversa, com respeito e compreensão, faz parte dos brasilienses. Em entrevista CB.Poder — programa da TV Brasília em parceria com o Correio Braziliense —, desta quarta-feira (20/4), essa característica deve ser priorizada e vivida pelos moradores da Capital neste ano de eleição para combater a polarização política entre familiares, amigos e vizinhos.

“Diálogo sempre faz crescer, e as polêmicas desunem, porque cada um se segura no seu ponto de vista e não quer ver o outro”, afirma. Os pais de Marcony vieram do Rio Grande do Norte para a construção da cidade na década de 1960. “Somos pioneiros, candangos, nos alojamos na Vila Planalto, e estamos lá até hoje”, relata.

Naquele momento, ele foi chamado para o seminário menor, no ensino médio do Colégio Corjesu, na L2 Sul, para depois ingressar no Seminário Maior, na Igreja Nossa Senhora de Fátima, no Lago Sul. “Lá, fiz filosofia, teologia, e logo fui ordenado, em 1988 pelo Dom José Freire Falcão, cardeal da nossa cidade naquela época, que me designou a trabalhar em Sobradinho, na Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Fátima”, recorda.

Dom Marcony acredita que o lema da Campanha da Fraternidade 2022“Fraternidade e Educação”, é o que pode guiar o respeito e aproximação de pessoas com pensamentos opostos. “Na medida em que a gente se deixa levar pelo diálogo e pela compreensão de tentar entender o lugar do outro, a gente tem fraternidade”, destaca. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) é a entidade que organiza a divulgação da campanha religiosa.

Relação com militares

Em 12 de março, Dom Marcony Vinícius Ferreira foi nomeado pelo Papa Francisco como arcebispo militar de Brasília, até então bispo auxiliar de Brasília, como novo Arcebispo do Ordinariado Militar do Brasil. Desde então, ele conseguiu perceber a identificação dos integrantes da igreja para com os militares.

“O que nos aproxima muito dos militares e da igreja é a disciplina, a hierarquia e o sentido de obediência, em que não se tem discussões”, analisa o líder religioso. Dom Marcony destaca que se uma pessoa quer seguir a Deus, tem que fazer renúncias. “No campo militar, tem que estar 24 horas disponível ao país”, exemplifica.

Confira abaixo a entrevista completa no Youtube do Correio.