Donos das pizzas Dom Bosco e Albert’s são amigos desde os anos 1960

Arthur de Souza

 Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
Enildo (E) e José Juarez: uma amizade sólida que superou crises econômicas

Alguém poderia imaginar que, de uma rivalidade entre os dois times considerados os maiores de Minas Gerais, fosse surgir uma amizade que dura mais de 50 anos? Pois é justamente o que acontece com Enildo Veríssimo Gomes, 76 anos, um dos atuais donos da Pizzas Dom Bosco; e José Juarez Santana Neves, 82, proprietário da Albert’s, uma loja de vestuário.

Os dois empreendimentos estão localizados na rua comercial da 107/108 Sul desde os anos 1960 e, de acordo com Juarez, o primeiro contato entre os dois aconteceu quando ele foi até a pizzaria. “Ele sempre foi muito brincalhão e, nesse dia, (o Enildo) estava falando sobre futebol — eu sou torcedor do Atlético-MG e ele, do Cruzeiro. A partir daí, se consolidou essa relação que dura até hoje”, lembra. O dono da loja de vestuários brinca com a situação que ocorreu na época, dizendo que “juntou uma sopa de galo com uma de raposa”. Entre risadas dos dois amigos, Enildo não perde tempo e, atestando o adjetivo dado pelo vizinho de comércio, alfineta José. “Mesmo na situação atual, o Cruzeiro continua sendo o maior de Minas”, comenta.

Teimosos

Sobre o longo período da relação, os amigos comentam que a aproximação foi um dos fatores essenciais para que ambos ‘sobrevivessem’ com seus comércios. “Com todas as crises que o país passou durante esses anos, muita gente fechou ou abandonou o negócio, mas eu e o Juarez somos teimosos e, mesmo que devagarinho, continuamos”, frisa Enildo. “E a amizade ajudou bastante nisso. Um sempre favorece o outro, seja trocando ideias — apesar de sermos de ramos diferentes —, dando dicas, etc.”, aponta.

O dono da Dom Bosco também lembra que, durante algumas das crises — inclusive na época da ditadura — enquanto todo mundo reclamava, ele e o amigo continuavam focados no nosso trabalho. “Sempre se ajudando. E naquele tempo, ainda tinham mais pessoas, donos de outros comércios, que também colaboraram. Hoje em dia, somos os sobreviventes”, complementa Enildo.

Além da questão comercial, eles brincam com o fato de serem os dois que — da época em que os estabelecimentos foram abertos — ainda estão vivos. “Quase todos já ‘foram embora’, mas ainda estamos persistindo. Os dois teimosos que ainda não foram escalados lá para cima”, diz Juarez. “E vamos continuar essa amizade enquanto Deus permitir que a gente esteja aqui. Só que a nossa intenção é bater o pé e ficar por mais algum tempo”, garante Enildo.

Os empresários também pregam que, além da amizade entre eles, as famílias também se uniram, com um levando parentes para serem clientes da loja do outro. “Eu comecei a levar o meu filho para comer a pizza lá. De lá para cá, ele também passou a levar meu neto e assim vai indo. Tenho a honra de ser amigo e frequentar o estabelecimento dele durante todo esse tempo, com toda a minha família, e será desse jeito enquanto a loja durar”, promete Santana. “Com a minha família é a mesma coisa. Na hora de comprar uma roupa ou um presente qualquer, sempre é na loja do Juarez. Todos compram aqui”, destaca Enildo. Sobre a troca entre as famílias, Veríssimo lembra que o amigo tem decorado todas as medidas de cada um de seus entes. “Quando está chegando perto da data de algum aniversário, por exemplo, ele já sabe até qual é o tamanho da roupa”, atesta.

Brincadeira

Nessa longa história de amizade entre os comerciantes, eles acumularam muitas situações em que um acabou pregando peças no outro. Com medo de que Enildo fosse se chatear, José Juarez teve receio de recordar um dos fatos mais marcantes e hilários, que ocorreu há cerca de 15 anos. Contudo, o dono da pizzaria o relata com muitas risadas. “Ele estava de férias e a loja, por consequência, fechada. Só que eu resolvi fazer uma brincadeira e dizer para os clientes que apareciam que ele tinha quebrado e desistido do negócio”, conta Enildo. “Quando ele voltou, todo mundo ficou perguntando o que tinha acontecido”, comenta. “Ele fez isso mesmo, falou que eu tinha ido embora e não ia mais voltar”, lembra o dono da loja de roupas. “Quando abri de novo, o pessoal chegava dizendo: ‘Ainda bem que o senhor voltou, seu Juarez’. Aí eu perguntei ‘Voltei de onde? Só estava de férias’. Ele gosta de fazer esse tipo de brincadeira”, destaca.

Enildo afirma que existem outras histórias como essa, mas lamenta que sejam somente com quem é vizinho de longa data. “Essa proximidade entre comércios vizinhos já se tornou coisa rara. Tem gente que fica com uma rivalidade boba e nem conversa com o dono da loja que está do lado. Acho que isso acontece por serem gerações diferentes. Nós somos do tempo em que todo mundo conversava e tinha uma amizade legal”, observa. “Na época que nos conhecemos, todo mundo era muito humano, muito unido. Era normal você ver pessoas que chegavam em um restaurante, comia e voltava para pagar só no outro dia. Eu mesmo já tive um caderninho que anotava os famosos fiados”, completa Juarez.

Canoa havaiana: o esporte que une vizinhos no Lago Paranoá

Edis Henrique Peres

Minervino Júnior/CB/D.A.Press
Marcella Jacobson e Adriana Reis (D) os benefícios do esporte para o bem-estar

As remadas ritmadas rompem a água calma e o sol poente pinta o céu em tons fortes de laranja e amarelo. Por um instante, os integrantes da canoa havaiana se tornam um só, unidos não somente entre eles, mas conectados também com a natureza, com a brisa fresca do fim da tarde e o avanço constante da canoa nas águas do lago Paranoá. Apaixonada pelos benefícios do esporte, Marcella Jacobson, 47 anos, servidora da Secretaria de Saúde e moradora do Noroeste, não apenas vive essa experiência, como convida vizinhos para experimentar os benefícios desse vínculo.

“Comentei com um colega de trabalho sobre a canoa havaiana, que era bom para o corpo e para a mente e que seria bom para ele e a esposa praticar o esporte. E não somente eles, tem outra vizinha que está na mesma equipe que faço parte, em algumas competições que participamos. No fim, o laço não se restringe a canoagem, a gente combina de sair, de ir comer fora, de fazer programas no fim de semana”, detalha.

Marcella confessa ser uma entusiasta dos benefícios da atividade física há muitos anos. “Desde a infância tive relação com esporte. Já fui atleta militar, mas agora é diferente, não tenho a cobrança de um treinador por resultados que tinha na época, é algo mais comigo mesmo, de superação, do meu foco de não deixar o meu rendimento cair, de treinar em equipe, de darmos o nosso melhor. Por isso a conexão é importante, de todos pensarem igual, remarem juntos. A canoa havaiana é um esporte de todos juntos, porque se um dar uma remada errada, isso atrasa a canoa. A intensidade da remada tem que ser a mesma, é uma solidariedade entre os seis membros”, destaca.

O contato com a natureza é outro benefício listado pela servidora. “Não é apenas um momento de todo mundo trabalhar junto, é um contato com a natureza, de ver o pôr do sol, ter o contato com a água, isso vai transformando a nossa vida. Principalmente com a pandemia, em que a gente sofreu tanto com o isolamento. Eu, por exemplo, trabalho na UTI (unidade de terapia intensiva), na área de odontologia, e vi muita gente morrendo. A oportunidade de ser transportada para esse momento de conexão, com a remada, com a água, com o momento, é muito importante”.

Transformação de vida

O convite de Marcella ao casal de fisioterapeutas, Adriana Rios, 50, e Júlio Carlos Teles, 55, transformou a vida de Adriana. Após passar por uma cirurgia há mais de três anos devido a uma hérnia de Spiegel, Adriana sofria com a perda do fortalecimento do músculo abdominal. “Sentia muita dor, mesmo deitada. Não conseguia fazer nem mesmo caminhadas, porque doía. Quando o Júlio me falou sobre a canoagem, eu não acreditava que iria fazer algum efeito, porque vendo as pessoas praticando o esporte, pensava que só trabalhava a musculatura dos braços, mas ela (Marcella) insistiu para que eu tentasse”, lembra.

Quando surgiu a oportunidade de experimentar a canoa havaiana, em setembro de 2020, Adriana descobriu “o único esporte”, até então, que ela conseguia realizar sem sentir dor. “E trabalha o corpo inteiro, ao contrário do que eu pensava, inclusive essa musculatura abdominal, no abdômen baixo. Foi um exercício que eu consegui realizar sem dor alguma e está sendo fantástico. Mudou a minha vida”, garante.

Professor do Remo Brasília e atuante na área há 17 anos, Rodrigo Fernandes do Prado salienta que a prática é considerada um esporte completo. “O remo trabalha o corpo todo, os membros superiores e inferiores, e um grande diferencial é que não tem impacto e nem risco de causar lesão nas articulações. Por isso, temos várias indicações médicas de pessoas com hérnia de disco, problemas no ombro ou no joelho para praticar o esporte. Como ele trabalha muito o cardiopulmonar, houve uma procura muito grande de pessoas que pegaram covid-19 e queriam normalizar o desempenho respiratório”, conta.

O professor complementa que, “em relação a canoa havaiana, se percebe muito forte a questão do trabalho em equipe, que exige habilidades de sincronia, para que a canoa siga reta e não de lado, e a percepção muito clara de que cada pessoa no banco tem uma função. Isso serve muito para a pessoa levar em ambientes de trabalho, por exemplo. Inclusive, empresas realizam dinâmicas aqui, abordando justamente sobre esse trabalho em equipe”.

Busca pela natureza

Em contato com a atividade há quase oito anos, Bárbara Lobato, 38, moradora do Sudoeste e consultora de comunicação, sempre levou amigos para conhecer o esporte. Para ela, o maior encanto é o contato íntimo com a natureza. “Por motivos profissionais, precisei me afastar por um tempo e somente consegui voltar em 2021, quando convidei de novo outros amigos e vizinhos para praticar comigo. Considero um estímulo de competição e treino essa prática conjunta com outras pessoas. Uma das vizinhas que tenho contato mais próximo é com a Priscilla”, afirma.

Comunicadora em redes, Priscilla Paola Colombo, 37, confessa: “Ela (Bárbara) me influenciou, foi o incentivo dela que me fez fazer a aula experimental. No começo achei que não ia dar muito certo, mas hoje vejo que foi um esporte que mudou a minha vida. Participo das aulas há um ano e meio. A princípio era um lugar para desestressar, mas agora entro em competições até de outros estados. Estou super engajada”.

Priscilla conta que ela e Bárbara viajaram em março para Ilhabela, em São Paulo, em uma competição de canoagem. “Em junho, vamos para Angra dos Reis (RJ). O remo tem sido uma escola de vida. Não é apenas a técnica na atividade, nos campeonatos e na seletiva. São várias etapas em que aprendemos a nos integrar e fazer conexões. É um esporte muito coletivo, em que precisamos entender o outro. Além disso é um local que eu me enxergo na posteridade, daqui 20 anos, 30 anos. Porque há uma galera com mais de 50, mais de 60, não tem restrição de idade, temos crianças, idosos, e todo mundo se respeita e compreende a limitação do outro”, garante.

Adaptação

Bárbara destaca que a razão por convidar tantos vizinhos e amigos para experimentarem a canoa havaiana é devido a conexão com a natureza. “Em primeiro lugar, é uma prática diferente em que a pessoa mexe com toda a musculatura. E depois, ela lida com a diversidade, de remar no frio, na chuva, no calor intenso. Isso estimula a adaptação à adversidade. Além disso, há a conexão entre a gente. No grupo que treinamos às 7h30, combinamos um coletivo do café da manhã, então um leva café, outro salada de fruta, outro torrada, pão, cuscuz. Isso é muito legal, é um estímulo ao coletivo”, pondera.

A relação, segundo ela, é de integração. “Um vai ajudando o outro sobre como melhorar a performance, o ritmo das braçadas, dizendo se o outro tem que inclinar mais o corpo, fazer mais força, isso melhora o nosso desempenho”, salienta. Na conexão com a natureza, Bárbara admite o amor por Brasília. “Nasci aqui e sou apaixonada pela capital. Até no período da seca eu gosto daqui, tenho um vínculo muito forte com a cidade. Principalmente na hora de explorar os locais que possibilitam esse contato com a natureza, como por exemplo, nadar na Água Mineral, ou na minha rotina no Lago Paranoá”, finaliza.

Mais informações: remobrasilia.com.br/

Minervino Júnior/CB
Grupo de vizinhos que participam de aula de remo no Minas Brasília. Marcela Jacobson e Adriana Reis.

Crônica: As voltas que a cidade dá

Mariana Niederauer

kleber sales

De quantas voltas se faz uma cidade? Se é assim que se conta a duração de um ano, por que não usar a metáfora para um monumento concreto, porém poético? Acordei numa madrugada com essa inquietação. O clima era de deserto. Essa aridez da seca de Brasília unida à pasmaceira de uma noite sem agitos. E percebi que aqui a vida dá voltas, a começar pela localização mais central e nobre de seu desenho.

A inspiração fez nascer talvez o texto de minha autoria mais belo que povoou as páginas deste jornal. A modéstia realmente ficou à parte, mas se me acompanhar pelas próximas linhas talvez entenda a viagem que me fez embarcar nesse sem-fim de sensações que apenas guiaram as mãos intuitivamente pelo papel, na tela do smartphone e nas teclas do computador.

Eu contava como a vida dá voltas no Parque da Cidade. Brinca de ciranda no Ana Lídia. Passeia na roda gigante do Nicolândia. Pedala o camelo nos caminhos cíclicos ou o pedalinho sobre o espelho d’água. Deixa uma jura de amor sobre a ponte. Refresca a sede com água de coco. Saca os problemas e corta a tensão numa quadra de vôlei.

Nesse momento, já sabia que carregava no ventre a primeira filha. Passava por uma transformação que só depois do nascimento dela entenderia totalmente, e seguia sendo levada por essa inspiração que se chama Brasília, onde a vida pega carona nas asas do Plano. Exibe a beleza pela passarela da Esplanada. Esbanja cerrado pelos canteiros de Ozanan e nos braços não menos candangos de operários dedicados de sol a sol. Exala elegância nos traços livres de Niemeyer. Organiza-se entre os eixos de Lucio Costa.

Sob os prédios, pilotis erguidos e habitados por meus avós, pais, tios e tias. A primeira e segunda geração de uma cidade que nasceu com muitos irmãos, na esteira e na leveza da vida que mergulha num lago artificial. E encanta-se com sua beleza natural. É crepúsculo na Ermida e Alvorada sobre a Terceira Ponte. Derrete-se no brilho mágico dos amantes que reflete sobre a água. Diverte, exercita e renova energias nessa imensidão Paranoá.

Depois de viver a infância entre os blocos de histórias pujantes, encontrei o mais belo e puro amor no mais escancarado clichê. À la Eduardo e Mônica, nos apaixonamos nos primeiros semestres de UnB. Calouro, veterana. A menina ingênua e estudante aplicada, com o rapaz alto e bonito, o mais popular das festas populares.

E então a vida fez preces na Catedral, sob os anjos de Ceschiatti e o azul intenso de Marianne Peretti. Casou-se com o primeiro namorado na Igrejinha. Pediu bençãos na Praça dos Orixás. Saiu em procissão com tapetes e velas. Regozijou-se com o pôr do sol na Praça do Cruzeiro.

Desde aquele encontro, a gente trata de viver se rebelando como Renato Russo. Vivendo a vida que canta a Legião Urbana na calçada. Faz fila do Karim à 106 Sul. Sintoniza o rádio na estreia do Drive-in. Assombra o Teatro Nacional. Escandaliza o público no Mané. Monta picadeiro no ginásio. Toma café da manhã na Torre e embarca no museu-aeronave do Complexo Cultural da República. Viaja galáxias e desvenda buracos negros no Planetário.

Com a segunda vida a caminho, no corpo exausto pelos efeitos de uma pandemia cruel, mas alma plena e ansiosa por mais desafios, a vida chega a se perder entre as quadras geométricas da Octogonal. Encontra história e samba no Cruzeiro. Bronzeia-se nos clubes. Brinda nos bares. Desfaz esquinas. Perverte a lógica na matemática do Plano Piloto. Invade as agulhinhas e, em breve, pulará carnaval nas tesourinhas.

Tanto esforço pelo caminho e a vida decide embarcar num voo no aeroporto e respirar novos ares. Vira turista. Inebria-se. Transforma choro em estrela cadente. Explora encanto e luta em Ceilândia, Taguatinga, Itapoã, Samambaia ou perto de Goiás. Encontra verdades periféricas. Desmascara injustiças. Sofre. É muitas vezes esquecida. Mas vira haikai e não perde a poesia. Ergue-se do barro. Constrói. Realiza sonhos.

Aí, quatro gerações e 62 anos depois, a vida se completa em uma só Brasília, aquela que integra os moradores com seus vãos abertos em pilotis, os mesmos que convidam às brincadeiras de criança ou a um bate-papo no fim de tarde. Afinal, a minha, a nossa Brasília, a cidade dos eixos, das tesourinhas, das agulhinhas, das quadras e das controvérsias de esquina, tem charme de metrópole e gosto de café passado no coador de pano em casa de vó.

Transporte, saúde e energia eram as reclamações de Brasília na década de 60

Talita de Souza

O ditado “desde que o mundo é mundo”, usado para se referir a uma questão que foi estabelecida ou que ocorre há muito tempo, se encaixa bem ao se referir a problemas de alguns setores de serviços de Brasília. Transporte público, saúde e infraestrutura são as três áreas que mais provocam reclamações de moradores da capital nos dias atuais,  e também provocavam insatisfação desde a década de 1960.

Em um levantamento feito pelo Correio, a maioria das reclamações dos moradores da cidade em abril de 1962, mês e ano em que a capital completava apenas dois anos, feitas na Coluna do Leitor, se tratavam de falta de energia, mudanças de horárias repentinas no serviço de transporte público — ou até mesmo a falta do ônibus nas paradas — e falhas no atendimento médico. 

Naquele momento, há apenas dois anos do nascimento da capital, os poucos moradores que apostaram na nova capital e vieram doar as vidas para o projeto e para o futuro de Brasília, não perdiam tempo para exigir melhorias para a cidade. Com tom de seriedade, irritação e até mesmo deboche, os candangos rechearam as páginas do jornal com o que eles desejavam que fossem notícia: uma capital melhor e digna para todos.

Confira abaixo algumas das reivindicações feitas por meio do Correio nesse aspecto. 

TCB vergonha: morador diz que precariedade do serviço poderá levar usuários a fazerem “justiça pelas próprias mãos”

A Sociedade de Transportes Coletivos de Brasília (TCB), inaugurada em maio de 1961 como Transporte Coletivo de Brasília, era alvo de constantes reclamações em abril de 1962. Responsável pelo serviço de ônibus na capital, a empresa foi classificada como “vergonha de Brasília” pelos moradores. 

Em 3 de abril de 1962, David Lobo, morador da Superquadra 413, descreveu que a TCB tinha problemas desde o atendimento dos funcionários até a qualidade dos ônibus. “É uma tristeza observar-se que numa cidade tão bem traçada como Brasília dotada de todos os requisitos modernos, seja tão mal servida de transporte”, começou o brasiliense.

“Observa-se que os horários não são cumpridos, os trocadores são mal educados e os motoristas são grosseiros”, acrescenta. O tradicional problema do troco, dor de cabeça para cobradores e usuários de ônibus de Brasília, já era um fator de estresse naquela época, quando a moeda ainda era o cruzeiro. 

“Na linha JK-W3 o preço da passagem é de Cr$ 15, mas o trocador nunca tem Cr$ 5 para dar de troco. Se o passageiro reclama, é recebido com uma série de grosserias”, contou. O estresse também era presente na hora de pegar ou descer do ônibus: David afirma que os motoristas não respeitavam as paradas de ônibus e que “param onde bem entendem”. 

Com tantos pontos de insatisfação, David compartilha com os leitores do Correio que o estresse pode levar a uma medida radical. “Procurem melhorar essa situação pois, um dia quando a população começar a revoltar-se e fazer justiça pelas próprias mãos, irão dizer que são vândalos e sem educação”, termina.  

Funcionários da Caixa Econômica abandonados na W3: “Brasília vai se tornar odiada”

O drama de Fernando Carlos Xavier, morador da quadra 16, foi exposto em 13 de abril de 1962. De acordo com o homem, a TCB não tinha horários definidos e os motoristas passavam quando quisessem, o que fez com que fossem penalizados no serviço por chegarem atrasados. “Horário para os motoristas da TCB é coisa secundária, pois nunca obedecem”, ironiza Fernando.  Ele conta que já ficou por 40 minutos à espera de um ônibus que o levasse da W3 para a Rodoviária. Na carta, o homem pede a correção do problema sob pena de que “Brasília vai se tornar uma cidade odiada por aqueles que não possuem condução própria”. 

Paradas de ônibus “mal feitas” e ineficientes

Os problemas com transporte público também eram vivenciados fora dos ônibus: Dalton Lobo, morador da Superquadra 413, reclamou, em 10 de abril de 1962, sobre a estética das paradas de ônibus. Chamadas à época de “abrigos”, os locais foram classificados como “mal feitos” e “ridículos”. “Já viram como são ridículos os abrigos construídos para passageiros na av. W3?”, questionou o homem à redação e aos outros leitores do Correio. 

Além de feios, Dalton conta que as paradas não servirão para livrar os passageiros da chuva.  Ele pede que a Assessoria de Planejamento da época “reveja” os projetos de construção dos locais. “Brasília é uma cidade ultra-moderna que não comporta coisas mal-feitas”, finalizou o leitor na carta. 

Hospital não atende telefone, tem números fakes e deixa brasilienses na mão

Em época de Serviço de Atendimento Médico Móvel (Samu), pode ser incomum ouvir que para pedir uma ambulância na década de 1960 era necessário ligar para o hospital, em um telefone fixo, e torcer para ser atendido. A realidade da época foi revelada por Rafael de Mendonça, em 3 de abril de 1962. Na carta enviada ao Correio, Rafael fala sobre a falência desse sistema no Hospital Distrital, nome da unidade de saúde que hoje é o Hospital de Base. 

O morador da Asa Norte conta que o telefone geral do lugar não atende e, na tentativa de encontrar outros canais para ser atendido, ligou para os números listados como do Hospital Distrital no catálogo telefônico. A surpresa foi que os números, que tiveram a ligação prontamente atendida, não eram da unidade de saúde, mas sim de residências particulares. 

Rafael ainda reclama que não há na Asa Norte telefones disponíveis, apenas quatro espalhados por toda a extensão da localidade, o que dificulta ainda mais a tentativa de pedir socorro para um ente querido. Ele classificou como “desesperadora” a situação de saúde no local e pediu que as autoridades olhassem “com carinho” as críticas e tomem providências.

Onde dias depois, outra reclamação sobre os telefones do hospital foi registrada no Correio. Em 14 de abril, Manuel de Souza Lima, do Acampamento da E.B.E, direcionou a insatisfação com a telefonista da unidade de saúde. Ele afirmou que ligou para o pronto-socorro e a ligação não foi transferida, que caiu. 

Depois, tentou contato e não obteve êxito. Manuel conta que o caso era sério e não podia esperar e que “irritou-se, pegou um carro e levou a pessoa enferma ao hospital”. Ele pedia que a direção do hospital corrigisse o problema e classificou o serviço telefônico como “Inteiramente deficiente”. 

Portaria desumana: um pronto-socorro “que de socorro não tem nada”

Em 29 de abril, o relato de um pai de um bebê de seis meses trouxe angústia aos leitores do Correio. Juarez da Silva, morador do bloco 4 da Superquadra 105 contou que foi até o Hospital Distrital levar o filho que estava “necessitando de socorro urgente”. Lá, esperou cerca de 1h15 por atendimento, que, segundo ele, foi negado pela portaria do local, que classificou como “desumana”. 

Primeiro, o chefe de portaria exigiu documentos e depois afirmou que o bebê só seria atendido se fosse pago uma taxa extra. Juarez afirmou que pagaria o que precisasse porque queria que o filho fosse atendido. No entanto, o “desalmado porteiro” não encaminhou o menino para atendimento e o pai teve que ir ao hospital do Iapi (Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários) porque “a criança piorava mais”. 

Juarez fez um apelo à direção do hospital “a fim de que procure um meio para humanizar o Hospital Distrital, principalmente o Pronto-Socorro que de socorro não tem nada”. 

Escuridão atrapalha o ir e vir dos brasilienses

Em 10 de abril de 1962, Meyer Wakimin expôs que as noites no bloco 16 da Asa Norte eram permeadas de escuridão, que causava insegurança e impedia o ir e vir dos moradores. O homem afirma que a falta de energia no residencial do IAPC torna “quase impossível às moças ou senhoras sair de casa”, porque além do “risco de serem assaltadas por malfeitores”, que, segundo ele, faziam morada no local, também poderiam cair em buracos nas ruas, problema recorrente no local. 

O mesmo problema foi relatado, também, em outra localidade de Brasília, o conjunto residencial JK, nas Superquadras 412 e 413. Em 13 de abril daquele ano, os moradores afirmaram que a iluminação precária feita apenas por lâmpadas comuns anexadas às paredes dos edifícios deveria ser trocada por um projeto de iluminação maior e mais abrangente. 

Os brasilienses que viviam no local afirmavam, ainda, que as lâmpadas por vezes queimavam e ninguém trocava. A mesma reclamação foi refeita no jornal quatro dias depois, em 17 de abril, dessa vez por apenas um morador, Daltro Lobo.

Em 28 de abril, foi a vez de Paulo Roberto reclamar da precariedade da iluminação na SQ 107, onde morava. O homem afirmou que os casais que andavam ali poderiam sofrer “atentado por parte de maus elementos” e pediu “enérgicas providências” para que o problema fosse solucionado. 

Todas as histórias relatadas aqui foram resgatadas das edições de 1962 guardadas no Centro de Documentação (Cedoc) do Correio Braziliense. O Correio se orgulha de fazer parte da história de Brasília! 

 

Jardim Botânico, Zoológico e Ermida: conheça passeios para curtir Brasília

Iara Pereira*

Brasília surgiu primeiro como um sonho. Em 1883, 77 anos antes da inauguração da cidade, um padre italiano sonhou com uma terra próspera, construída exatamente nas coordenadas onde a cidade está hoje.

No relato, eternizado em um livro de memórias, o santo católico João Bosco, conhecido como Dom Bosco, conta ter sonhado que fazia uma viagem à América do Sul. Mesmo sem conhecer o continente, imaginou um lugar entre os paralelos 15 e 20, onde havia uma enseada bastante longa e bastante larga, que partia de um ponto onde se formava um lago. Segundo ele, essa visão representava a “terra prometida, de onde jorrará leite e mel”.

Hoje, 138 após o sonho de Dom Bosco e exatamente no ponto visualizado, está a primeira construção de alvenaria da cidade. Uma ermida que leva o nome do santo e que foi inaugurada em 1957, antes mesmo de Brasília. Emoldurado pelo Lago Paranoá, foi criado também o Parque Ecológico Ermida Dom Bosco, categorizado como Monumento Natural 

Com 131 hectares de área verde, o espaço atrai esportistas, famílias para piqueniques e muitos visitantes para ver um dos pontos mais famosos de Brasília para assistir um pôr do sol. Também é comum ver por lá banhistas nadando e aproveitando o sol às margens do lago.

Assista ao vídeo do especial Brasília 62 anos com mais informações:

Jardim Botânico

O Jardim Botânico de Brasília é predominantemente composto por vegetação do cerrado. Por conta dessa característica, é conhecido como o “Jardim do Cerrado”. Com quatro parques temáticos (jardim japonês, jardim de cheiros, jardim evolutivo e jardim de contemplação), o JBB pode ser apreciado por meio das trilhas que estão abertas à visitação. E, aos que amam manter contato com a natureza, o espaço é perfeito para piqueniques, além de contar com uma das melhores opções de café da manhã da cidade aos finais de semana.

Veja mais detalhes de cada jardim:

  • Jardim EvolutivoTem a finalidade de apresentar a evolução das plantas segundo seu sistema reprodutivo. É onde estão localizados o Orquidário, a Casa de Chá e o Espelho d’Água. 
  • Jardim Japonês – Apresenta um paisagismo que busca equilíbrio e harmonia. O visitante é convidado a contemplar as águas, pedras, plantas e adentrar um estado de meditação.
  • Jardim de Cheiros ou Jardim Sensorial – Busca a interação dos visitantes com a flora do JBB. Projetado para valorizar plantas com características medicinais, aromáticas e condimentares, o jardim é um espaço didático, que estimula os cinco sentidos.
  • Jardins de Contemplação – Foram idealizados como uma representação dos seis biomas brasileiros: Mata Atlântica, Cerrado, Pampas, Floresta Amazônica, Caatinga e Pantanal. As diferentes espécies vegetais são posicionadas ao redor de um lago central.

Jardim Zoológico

Para quem gosta de observar a fauna, o Jardim Zoológico de Brasília, próximo ao Guará, integra o visitante com a natureza. Em uma área de mais de 130 hectares, o Zoológico comporta os recintos dos animais, o Museu de Ciências Naturais, borboletário, uma área para acampamento e piquenique, lagos artificiais, estacionamento e lanchonetes. Tudo isso além das áreas arborizadas para passeio, onde o visitante pode apreciar a diversidade de espécies que habitam no jardim.

*Estagiária sob supervisão de Mariana Niederauer

Veja as reclamações “curiosas” sobre Brasília na década de 1960

Falta de iluminação que dava um lugar para que casais promovessem “escândalo” no escurinho da superquadra 107, uma cadela raivosa mas com um dono “muito mais perverso” que fazia os cabelos dos moradores da quadra 17 se arrepiarem, e a falta de variedade no cardápio de um restaurante perto da Igrejinha eram algumas das variadas e curiosas reclamações recebidas pelo Correio no quadro Coluna do leitor, em abril de 1962. 

Há apenas dois anos do nascimento da capital, os poucos moradores que apostaram em Brasília e vieram doar as vidas para o projeto e para o futuro da cidade não perdiam tempo ao exigir melhorias. Com tom de seriedade, irritação e até mesmo deboche, os candangos rechearam as páginas do jornal com o que eles desejavam que fosse notícia: uma capital melhor e digna para todos. 

Confira uma seleção dessas reivindicações preparada pelo Correio em comemoração aos 62 anos de Brasília:

Comida “racionada e intragável”

Em uma terça-feira de abril, no dia 3 daquele mês em 1962, a página 6 do Correio recebeu uma reclamação deveras válida: um trabalhador que não aguentava ter a principal refeição do dia composta por alimentos “racionados e intragáveis”. 

Reinaldo J. Vieira foi o dono da reclamação contra o restaurante Americana, localizado, à época, perto da Igrejinha de Nossa Senhora de Fátima. O homem afirma que a comida era servida no prato e, por isso, era feito como os donos desejavam — a contragosto de Reinaldo. De acordo com ele, o menu da casa não era variado, era sempre “um pouquinho de arroz, feijão preto e dobradinha”. “A comida que servem aos fregueses, além de ser racionada, é intragável”, disse na carta.

De acordo com o reclamante, a falta de variedade e o fato de ser “pouco substanciosa” torna a comercialização do restaurante uma “exploração e caso de polícia”. “Convenhamos, é exploração e caso de polícia. Urge, portanto, providências adequadas das autoridades competentes”, concluiu ele. 

Dois dias depois, mais uma vez a página 6 foi tomada por uma carta do senhor Reinaldo, que parecia ser um guardião do paladar dos trabalhadores brasilienses da época. Em 5 de abril de 1962, a reclamação se dirigiu ao restaurante do Grupo de Trabalho de Brasília (GTB), órgão responsável pela construção de prédios habitacionais na capital. 

Nesse, Reinaldo provou o que ele chamou de “arroz sem tempero” e um “feijão mal preparado”. A carne? Não tinha. “A comida vem piorando dia a dia, pois, antigamente ainda era servido o bife, mas agora deixaram de servir esse insubstituível prato”. 

O Correio se pergunta se Reinaldo conseguiu tornar os horários de almoço dele e dos colegas em um período agradável e saboroso. Esperamos!

Cadela perigosa, dono perverso: o terror da Quadra 17

Imagina não poder circular pelas ruas da quadra em que mora porque a qualquer momento uma cadela pode te atacar sem motivo ou, ainda, a mando do próprio dono? Essa era a realidade vivida em abril de 1962 pelos moradores da Quadra 17, de acordo com Luiz Fernando Alves. O homem escreveu ao Correio para pedir às autoridades “providência” para o caso. 

De acordo com Luiz Fernando, a cadela, que é descrita como muito bonita, vivia solta pela quadra e sempre atacava as pessoas do local. O temperamento da cachorrinha também era utilizado pelos interesses do dono, classificado como “muito mais perverso” que o animal.

Luiz afirma que o tutor da cadela obrigou-a a atacar “um grupo de rapazes” que conversavam na quadra. Ele pedia que a polícia e outras autoridades intervissem para que o fato não se repetisse e para que “crianças inocentes não sejam também mordidas”. 

Um galinheiro e uma bananeira: a receita para estressar vizinhos

A vizinhança do Bloco 5 da Superquadra 412 era uma calmaria até o momento em que um deles teve a ideia de cultivar um galinheiro em frente à entrada em que mora, em um espaço que era destinado ao jardim do bairro.

A carta, feita pelos moradores indignados, dizia que o homem tinha “a mania de fazendeiro” e chegou a plantar uma bananeira no local, além de alguns legumes e outras coisas em frente ao apartamento dele.

Os vizinhos insatisfeitos pediam que as autoridades fizessem algo para acabar com o “cocoricó” das galinhas, com a justificativa de que a pequena fazendinha do homem prejudicava “completamente o plano urbanístico da cidade”.

Lambretista abusado na 409 tira o sossego dos pais da quadra

A coluna do leitor de domingo, 15 de abril de 1962, trouxe uma história um tanto curiosa, digna de reality shows que tratam sobre problemas entre familiares e vizinhos. Tratava-se de uma reclamação dos moradores do Bloco 29 da Superquadra 409, que reclamavam do que chamaram de “um abusado lambretista” que passeava pela calçada do local “sem respeitar quem ali passa”. 

Imprudente, o lambretista foi acusado de “quase matar um menor”, chamado de Francisco da Cunha Filho, de 4 anos, que brincava na entrada do apartamento em que morava. Além de quase causar o acidente, o lambretista “ainda achou-se no direito” de ir até a casa da criança e falar para o pai não deixá-la em frente à casa porque era o local onde ele passava com a lambreta. 

Na carta, os moradores apelaram ao então chamado Serviço de Trânsito da capital para “que baixe determinação com a finalidade de coibir abusos dessa ordem”. Será que a sagaz lambreta recebeu uma multa? 

Mulher despejada sem estar em casa perde herança de família

Uma moradora da Superquadra 412 usou a Coluna do Leitor para denunciar o despejo dela, que lhe custou mais do que um lugar para morar. Em 19 de abril de 1962, a carta de Elza Ramos contou o drama que viveu. Ela havia sido despejada há dois meses do apartamento em que morava na 412, enquanto trabalhava. Quando chegou em casa, além de não ter acesso ao local, não sabia onde estavam todos os móveis. 

A saga de Elza para encontrar as suas mudinhas de roupa e o restante dos bens durou dois meses, até que os encontrou. O problema é que a ex-moradora da Superquadra 412 diz ter perdido diversas jóias, roupas de cama e ate mesmo uma radiola, “de alta fidelidade”, que “ficou inteiramente estragada”. 

No entanto, há um objeto que Elza fazia questão de reaver: um crucifixo, herança de família. Na carta, ela reclama de ter sido furtada “numa terra de gente civilizada” e que o que ocorreu com ela, os móveis e os bens “é obra de pessoas sem princípio, indigna de funcionar como servidores de um órgão judiciário, que tem obrigação de dar bom exemplo”.  

Na reclamação, ela se dirige diretamente ao Juiz da Primeira Vara da Fazenda Pública, que emitiu a ordem de despejo, “para que tome uma providência enérgica para punir os culpados” e fazer com que o crucifixo apareça. 

Pombal inacabado? Leitor confunde traço artístico de Oscar Niemeyer

Reclamação pombal inacabado
Leitor reclamou do Pombal criado por Oscar Niemeyer para a Praça dos Três Poderes

Em 24 de abril de 1962, dois dias após Brasília completar dois anos, o leitor Darcy Viana trouxe uma reclamação que, hoje, pode ser vista como uma crítica ao trabalho de Oscar Niemeyer. O morador do Bloco 6 da Superquadra 409 afirmava que o Pombal da Praça dos Três Poderes, erguido e inaugurado em 1961 durante o governo de Jânio Quadros, estava inacabado. 

Ele afirmava que as autoridades tinham duas alternativas: “Ou se retira aquela coisa horrível que o governo de Jânio Quadros construiu (a única obra que fez em Brasília) ou então se termina dando-lhe a complementação digna da suntuosidade da Praça dos Três Poderes”. Darcy ainda chamou a obra de um dos arquitetos mais renomados do mundo de “monstrengo” que enfeia a paisagem do local. 

O Pombal, na verdade, não estava inacabado. Ele foi inaugurado em 1961, pronto, logo após a primeira-dama, Eloá Quadros, fazer o pedido para Niemeyer. Ela dizia que todas as praças deveriam ter pombos — o Pombal é uma maneira de atrair pombos para o local.

De acordo com historiadores, Niemeyer não gostou da ideia, por achar que a praça deveria continuar plana, ou seja, sem nenhum outro monumento no meio dela. Mas precisou atender o pedido “irrecusável”. Fato engraçado: a obra é conhecida por alguns brasilienses como “prendedor de roupa”. 

Mosquitos causam insônia aos moradores da 206

Maria Pereira dos Santos não aguentava mais perder noites de sono quando decidiu escrever uma reclamação ao Correio, que foi publicada em 27 de abril de 1962, uma sexta-feira. Moradora do bloco 1 da Superquadra 206, ela afirma que uma “onda de mosquito” ronda o local, insetos “tão fortes e violentos que impedem o sono dos habitantes do edifício”.

Maria ressalta, na carta, que os mosquitos podem ter relação com “fossas anti-higiênicas” que ainda existiam no local. Por fim, ela pedia que as autoridades corrigissem o problema, porque “não se justifica que numa cidade com todos os recursos da técnica moderna, seus moradores tenham seu sono cortado por uma onda perturbadora de mosquito”. 

Asa Norte preterida? Morador reclama de falta de bancas

Considerado um dos locais com melhor qualidade de vida de Brasília, a Asa Norte parece não ter sido sempre preferida pelas autoridades locais na década de 1960. Pelo menos não para Meyer Wakimin, morador do Bloco 16 da Asa Norte, que escreveu ao Correio em 11 de abril de 1962 para reclamar que “as autoridades, decididamente, não dão a menor importância pela sorte dos que vivem no conjunto residencial”. A revolta de Meyer é a falta de bancas de jornal.

“Por que a Novacap só não construiu Banca de Jornaleiros na Asa Norte?”, questionou o morador. O homem afirma que “não há motivo justificável” para a inexistência desses estabelecimentos que promoviam a comercialização de jornais, revistas e outros itens de conhecimento e entretenimento dos moradores. 

“Em outros conjuntos residenciais, menos populosos, foram construídas bancas dotadas de todos os requisitos modernos.” Será que o seu Meyer conseguiu ter a oportunidade de comprar o jornalzinho diário pela manhã perto de casa, antes de ir ao trabalho?

Leitor pede que polícia limite uso de “farol alto”, que causou acidente

Leitor reclama de farol alto
Leitor reclama de farol alto

Em 15 de abril, foi publicada a reclamação de Marcelino Luís de Oliveira, que registrou a insatisfação pessoalmente na redação do Correio, no SIG. O morador da Quadra NE 30 denunciou o uso da luz do farol por motoristas que atrapalham os “colegas” que andam no sentido contrário da avenida. 

Na quinta-feira anterior ao domingo em que registrou a reclamação, Marcelino conta que atropelou um garoto após “perder a visão” quando um carro o ultrapassou com farol alto. O fato, que deixou Marcelino indignado, fez com que, além de uma reclamação no jornal, ele organizasse um abaixo-assinado para “solicitar das autoridades um providência contra tais abusos a fim de evitar outras vítimas nas estradas”. 

Falta de luz promove um lugar para “amantes” se encontrarem

Nada de encontros “apaixonados” na Superquadra 107! Para Walter Luís, morador do bairro, a falta de iluminação no local não trazia insegurança, mas sim propiciava um ambiente para que casais “promovessem escândalos”. A reclamação dele, publicada em 1º de abril de 1962, pedia para que as autoridades tomassem “uma providência enérgica a fim de colocar um ponto final nesta irregularidade”. 

Todas as histórias retratadas aqui foram retiradas do Centro de Documentação (Cedoc) do Correio Braziliense, que se orgulha de fazer parte da história de Brasília!

Centro de Dança do DF oferece aulas gratuitas de balé e afro dance

Iara Pereira*

O Centro de Dança do DF é um dos pontos culturais já tradicionais em Brasília. Fundado em 1993, ao lado do Teatro Nacional, o espaço ficou fechado por cinco anos, mas retornou com as atividades em 2018.

Frequentado por dançarinos profissionais, amadores, aprendizes de todas as idades e mestres, o Centro de Dança se estabeleceu como um local dedicado a ensaios, oficinas e espetáculos.

A agenda conta com aulas para profissionais e para iniciantes, oferecendo inclusive aulas gratuitas de balé e afro dance. A professora de dança Tereza Braga explica que o projeto é gratuito para crianças iniciantes a partir de 6 anos. Os pequenos entre 7 e 12 anos que já tiveram experiência com balé participam de uma aula experimental para a formação de uma segunda turma.

fachada do centro de dança do DF
Centro de Dança do DF voltou a funcionar em 2018, após cinco anos fechado

“O Centro de Dança é um espaço maravilhoso, muito bonito e gratuito também. Eu acho que é um incentivo muito grande a gente ter esse espaço e aproveitá-lo”, afirma a bailarina Tereza Braga.

Com quase 30 anos de existência, as salas de aula e palcos do Centro de Dança do DF foram cenários para a construção de histórias pessoais. Este é o caso de João Gabriel Lima, que, em 2009, decidiu complementar sua formação em artes cênicas com aulas de dança. 

“Eu fui formado aqui e agora eu ofereço formação aqui. A manutenção e o cuidado com esses espaços é que podem ir alçando a produção cultural brasiliense para um nível profissional”, defende João Gabriel , que já participou de dois dos principais grupos de arte contemporânea da cidade e hoje leciona no Centro de Dança.

Assista também à reportagem em vídeo:

Serviço

Centro de Dança do DF

Setor de Autarquias Norte, Quadra 1

Telefone: 3328-4387

Instagram: @centrodedancadf

Site: www.cultura.df.gov.br/centro-de-danca-2

 

Ballet Infantil

Terças e quintas-feiras, das 14h30 às 16h30

Inscrições e informações: professora Tereza Braga – (61) 98226-4545

 

Dança Afro Contemporânea

Terças e quintas-feiras, das 19h às 21h30

Inscrições e informações: professor Júlio César – (61) 99232-0119

 

*Estagiária sob supervisão de Mariana Niederauer

Relembre o dia em que Roberto Carlos quase se casou em Brasília

Thays Martins

“A multidão ia aumentando a partir das 22h, para assistir ao casamento do rei Roberto Carlos”, anunciou a edição de 21 de abril de 1983 do Correio Braziliense. O casamento seria no Santuário Dom Bosco e fez com que milhares de brasilienses se reunissem na porta da igreja depois que o Correio revelou a cerimônia ultrassecreta na edição do dia anterior. 

Bastante religiosos, o rei se casaria com a atriz Myrian Rios em Brasília, de forma discreta, para fugir dos holofotes que a cerimônia traria. Mas também por um outro motivo. Foi na capital federal que o casal apareceu pela primeira vez em público, em 21 de abril de 1981. Em entrevista ao Domingo Espetacular, da Record TV, no ano passado, Myrian revelou que os dois mantiveram o relacionamento em segredo por cerca de um ano a pedido do rei. A atriz era 17 anos mais nova que Roberto Carlos e conheceu o rei com apenas 15 anos. O relacionamento começou quando ela tinha 17 anos.

Em 1983, a jovem Myrian com 24 anos, e Roberto Carlos eram o casal do momento. A cerimônia secreta foi descoberta por acaso. Um outro casal soube do fato na sacristia, contou a amigos e a informação chegou até o Correio. A informação foi confirmada pela irmã Carminha, da secretaria da igreja, sem saber que falava com um repórter. A cerimônia era tão secreta que nem o nome dos noivos foi registrado no livro de registros, somente: “Dia 20, 22 horas, Roberto C. M.R.”. Hoje, o santuário diz que não tem registros do acontecimento. 

O anúncio da cerimônia na primeira página do Correio, porém, foi o bastante para que os fãs do rei se reunissem em frente à igreja para tentar ver algo. Alguns juraram que viram Silvio Santos, que seria um dos padrinhos. “Chegou a polícia, o Detran desviou o trânsito da pista que liga a W3 a W4, junto à Dom Bosco. Pipoqueiros e carrinhos de cachorro-quente ajudavam a fixar a multidão, que continuava aumentando”, relatava a edição daquele 21 de abril.

No fim, os documentos para a realização da cerimônia não chegaram. “Mas a multidão não queria nem saber: fincava pé na porta da igreja, à espera do casamento. A igreja fechou as portas, apagou as luzes, mas ninguém arredou o pé, e até as primeiras horas da madrugada de hoje muitos ainda esperavam”, continua o relato. 

 O casamento em Brasília acabou não acontecendo, mas o relacionamento durou mais de uma década. À Marie Claire, no ano passado, Myrian lembrou com carinho da união com o rei. “O Roberto foi o grande amor da minha vida”, disse. “Eu o conheci com 17 anos, nós nos casamos e eu me separei com 30. É um tempo de amadurecimento da mulher, de adolescente para adulta. E eu aprendi muito com o Roberto”, lembrou. O relacionamento foi eternizado em canções do artista, como a música A Atriz, de 1985. “Vejam só vocês o que foi que eu fiz. Fui me apaixonar por uma atriz”, diz Roberto em um trecho da música.